O Auditório dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo acolheu, esta sexta-feira, a sessão solene comemorativa do 57.º aniversário do Núcleo de Árbitros de Futebol de Pinhal Novo (NAFPN), num evento que reuniu cerca de 150 pessoas, entre representantes das autarquias locais, dirigentes associativos, árbitros de vários núcleos da região e público em geral, as quais promoveram, à entrada, a entrega de bens alimentares, numa ação solidária em nome da IPSS Fundação COI.

Para assinalar os 57 anos de historial do Núcleo de Árbitros de Futebol de Pinhal Novo, o segundo núcleo de árbitros de futebol mais antigo do país, os responsáveis do NAFPN idealizaram a realização de um colóquio que centrou particulares atenções.


Com o jornalista Paulo Ségio (diretor adjunto da RTP) a assumir a moderação do colóquio, o tema da “Ética no Desporto” sentou, igualmente, na mesa dos convidados a partilhar experiências, Duarte Gomes (ex-árbitro internacional), Bruno Paixão (Vídeo-árbitro FPF), Nuno Pinto (futebolista profissional do Vitória FC) e Olívio Cordeiro (treinador de futebol).

Ao longo de quase duas horas, a abordagem à temática proposta foi pontuada com as intervenções dos convidados, os quais não deixaram de responder a uma série de questões levantadas pela plateia, revelando uma interação positiva, esclarecedora e proveitosa como acabou por ser reconhecido de forma generalizada.

Uma questão transversal

“Lidamos com uma falta de ética muito grande. Há um enorme desrespeito por árbitros, mas também por treinadores e jogadores”, registou Duarte Gomes, no arranque da sessão, situando, desde logo, uma questão, reconhecidamente, transversal aos agentes que dinamizam a competição e à sociedade.

O ex-árbitro internacional apelou, portanto, à necessidade de mais educação e consciencialização da nossa sociedade e valorizou a promoção das boas práticas no desporto, nomeademente no futebol, onde o cartão branco, que premeia os bons comportamentos e o fair play, deve ser encarado como “uma motivação”. “Cada vez mais, terão de ser as crianças a fazer a diferença nos bons exemplos de valores da educação e do respeito”, assumiu, num olhar para o futuro desportivo que se deseja.

Nuno Pinto, futebolista do Vitória FC, que como citou Paulo Sérgio na sua apresentação, “driblou um cancro” e passou “uma prova de vida”, que o afastou dos relvados nos últimos seis meses, tendo regressado, de forma simbólica, no sábado, ao Bonfim, naquele que foi um momento vivido com particular emoção, foi a cara de um exemplo em como o futebol espelha os valores da solidariedade.

Ao agradecer o carinho de todos aqueles que estão ligados ao desporto-rei e não só, de Portugal e além-fronteiras, Nuno Pinto frisou que essa onda de apoio de que foi alvo representa “a ética boa do desporto”.

Contudo, o atleta profissional libertou que “em Portugal, por norma, só se reúne à volta das tragédias. Há muita coisa boa no futebol em que todos devemos unir-nos”.


Realidades e alertas

Por sua vez, Olívio Cordeiro, na visão de treinador, a questão de ética no desporto tem muito a ver com a adaptação à realidade em que cada interveniente está enquadrado.

“No âmbito do futebol distrital, os clubes e os árbitros são amadores, as pessoas estão por carolice e vivem adaptadas a essa realidade, bem diferente do patamar profissional”. Todavia, o técnico não hesitou em chamar a atenção para a efetiva promoção do respeito.

“Os resultados dos jogos não podem estar à frente dos valores das pessoas. Há que fomentar o bom trato”, registou.

Numa outra visão, de quem conta com uma vasta experiência na arbitragem, Bruno Paixão lamentou que os comportamentos excessivos podem vir a travar o espectáculo do futebol.

“Estamos a ir por um caminho que se está a tornar insustentável. Qualquer dia não há emprego para jogadores, treinadores, porque não há mercado para este produto”, admitiu Bruno Paixão, agora a execercer a função de vídeo-árbitro, mas que atuou ao longo de 22 anos nos relvados da divisão maior, sendo o árbitro com o maior número de jogos efetuados na Liga NOS.

A utilização das redes sociais, as apostas desportivas, o papel da comunicação social e o futebol no feminino mereceram, igualmente, uma abordagem interativa num encontro em que ficou reconhecido que todos devem contribuir, cada vez, mais e de forma efetiva, em nome da cultura desportiva e da ética no desporto.

AF Setúbal saudou iniciativa

Nos momentos que antecederam o encerrar da cerimónia festiva, o presidente da Direção da AF Setúbal, Francisco Cardoso, e o presidente do Conselho de Arbitragem da instituição, José Manuel Esteves, saudaram o NAFPN pela passagem de mais um aniversário.

Francisco Cardoso elogiou a “promoção do colóquio e o painel de convidados pelo seu relevante contributo, bem como a presença significativa de árbitros da nossa região nesta sessão” e deixou a certeza de que a associação e a arbitragem do nosso distrito continuam a trabalhar para ter cada vez mais e melhores árbitros.


Francisco Cardoso (AFS) com André Botelho (NAFPN)

José Manuel Esteves enalteceu, por sua vez, a “dedicação e o grande trabalho que o núcleo tem vindo a dinamizar no plano da formação contínua de árbitros”, em nome da arbitragem distrital. 


José Manuel Esteves destacou empenho formativo do núcleo

Refira-se que os elogios ao NAFPN e à sessão promovida foram igualmente vincados pelo presidente da APAF, Luciano Gonçalves, apontando o núcleo pinhalnovense como “uma referência na arbitragem nacional”.

André Botelho, elemento da Assembleia Geral do NAFPN, agradeceu a significativa presença e relevante participação de todos no evento festivo, que assinalou os 57 anos de atividade do núcleo.

O Núcleo de Árbitros de Futebol de Pinhal Novo foi fundado em 12 de maio de 1962.